Golpes de bitcoin em igrejas

Apesar de representar uma opção de reserva de valor aos investidores e uma alternativa às tradicionais transações financeiras realizadas por bancos e instituições, o bitcoin tem sido utilizado em operações fraudulentas e ilegais. Tal suspeita envolve o uso do criptoativo para promover pirâmides financeiras em igrejas.

Em 2019, no Brasil, uma ação da Polícia Federal (PF) desvendou um esquema de investimentos em bitcoin ofertado por um líder religioso do estado do Espírito Santo. De acordo com o veículo de informação Cointelegraph Brasil, o pastor de igreja evangélica Wesley Binz oferecia a gestão do criptoativo para terceiros sem a autorização do Banco Central ou da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

A Operação Madoff, como ficou conhecida, foi deflagrada em julho de 2019. O líder evangélico, também CEO da empresa Trader Group Investimentos, oferecia serviços de gestão de carteira de bitcoin nos cultos, sob a promessa de retorno de 20% ao dia aos religiosos. A empresa atuava no Brasil, na Nova Zelândia, em Moçambique e nos Estados Unidos.

Após investigações, o delegado da PF Guilherme Helmer confirmou a apreensão de 4.000 moedas de bitcoin, equivalente a mais de 12 milhões de reais, e o pastor deverá responder por gestão fraudulenta, associação criminosa e negociação de valores mobiliários sem registro prévio. Por outro lado, Binz negou estar envolvido no esquema de pirâmide, sob a justificativa de que seu negócio era bem estruturado, e serviria de modelo para o futuro.

Em março de 2020, o Tribunal Regional Federal determinou que os valores apreendidos referentes à Trader Group Investimentos sejam utilizados para ressarcir os clientes e religiosos.

Apesar do caso ter chamado a atenção, ressalta-se que o uso da fé tornou-se prática comum no Brasil para atrair investidores e aplicar golpes. Sob o apoio do discurso da “teoria da prosperidade”, muitos líderes religiosos ostentam carros e bens materiais como uma tentativa de convencer os fiéis a aportarem suas economias em esquemas fraudulentos. Dessa forma, após captarem o dinheiro, os líderes se apoiavam no discurso da paciência devido à falta de pagamento dos bancos e bloqueio de bens.

Em 2020, um novo esquema de pirâmide financeira praticado sob o uso da religião foi desvendado. O empresário Nivaldo Gonzaga, presidente da GenBit e ancião da Congregação Cristã do Brasil, participava de cultos evangélicos para atrair novos investidores em bitcoin. De acordo com o LiveCoins, a atuação da GenBit foi proibida pela CVM após suspeita de fraudes. O Ministério Público Federal determinou o bloqueio de 1 bilhão de reais nas contas da empresa e o fechamento do conglomerado. Apesar da GenBit oferecer retorno de 15% ao mês aos investidores, o pagamento não era realizado há pelo menos 4 meses, sob a justificativa de atraso dos bancos.

Além de Gonzaga, o ancião Elifelete Marcondes da Silva também figurava entre os líderes da GenBit. Silva creditava suas conquistas materiais a Deus, e afirmava que a empresa onde trabalhava era um negócio seguro, confiável e disruptivo, o qual proporcionava uma transformação inovadora na vida das pessoas. No entanto, o Ministério Público aponta que centenas de religiosos venderam suas casas, realizaram empréstimos bancários ou mesmo utilizaram o valor da rescisão trabalhista para aportar na exchange como forma de buscar a rentabilidade elevada. O esquema permanece sob investigação.

Em janeiro de 2020, um cliente da Unick Forex entrou armado em um culto religioso e ameaçou a vida do bispo. A suspeita é de que o líder tenha recomendado o esquema de pirâmide aos fiéis. De fato, informações coletadas em grupos de WhatsApp apontam que diversos religiosos procuravam a Unick após recomendação do pastor, mas não recebiam o retorno prometido. A Unick foi alvo de investigações da Polícia Federal em outubro de 2019 e seus principais líderes foram presos. A empresa ofertava investimentos em bitcoin e adotava uma estratégia de marketing multinível. Apesar de ter sido previamente considerada irregular pela CVM, a Unick permaneceu captando clientes. Estima-se que a empresa tenha reunido mais de 1 milhão de pessoas e 2 bilhões de reais. Apesar dos protestos realizados contra o bispo da igreja, advogados afirmam que pode demorar até 10 anos para que as vítimas lesadas sejam ressarcidas.

Por fim, destaca-se o recente caso de suposto golpe com bitcoin envolvendo a sede da igreja Universal do Reino de Deus, em São Paulo. Em maio de 2019, após uma grave denúncia publicada pelo Intercept Brasil, a empresa AirBit Club foi enquadrada pelas autoridades após suposto esquema de pirâmide financeira com bitcoin envolvendo religiosos. A AirBit Club usava o altar da igreja Universal para pregar histórias de superação em decorrência da alta rentabilidade obtida após investimentos no criptoativo.

O jovem Gabriel Fonseca Reis, conhecido como “Garoto Bitcoin”, era o nome por trás da empresa, e participava ativamente dos cultos religiosos com o intuito de comover os fiéis e atrair novos investidores ao seu esquema criminoso. O testemunho de Gabriel era intercalado por citações bíblicas e pela coleta do dízimo, momento em que obreiros utilizavam mais de 50 máquinas de cartão de crédito para reunir o dinheiro dos religiosos.

Em 2013, Gabriel já havia sido alvo de suspeitas devido à participação em atividade econômica irregular. Na época, seus bens milionários foram bloqueados pelo Ministério Público de Santa Catarina. Além da atuação no Brasil, Gabriel também visitou os templos da Igreja Universal em Portugal e na Rússia. Sob o discurso de que o segredo do sucesso é o altar e sempre carismático, Gabriel mantinha uma relação próxima com o bispo Edson. A promessa de altas rentabilidades diárias e uma vida mais próspera levou milhares de fiéis a aportarem suas economias em bitcoin na Airbit Club, a qual cobrava uma taxa de adesão de 1.000 reais.

Após as acusações de fraude, a Igreja Universal nega qualquer envolvimento com Gabriel, e aponta que o jovem é somente um frequentador da igreja. A empresa AirBit Club, por sua vez, não se pronuncia em relação às denúncias registradas pelos investidores e religiosos, e aguarda o andamento do caso. Enquanto isso, Gabriel exibe seu novo negócio, Yat Solutions, companhia especializada em criptoativos e assessoria financeira.

Por isso, todo cuidado é pouco! Informe-se primeiro para evitar ser enganado. Criptomoedas são um assunto complexo e sério, qualquer falta de conhecimento pode resultar em problemas se você entrar nesse mercado desavisado.

Recomendo iniciar seus estudos por essas fontes para se informar:

https://bitcoin.org/pt_BR/

https://confionacompra.com/onde-como-comprar-bitcoin-btc-no-brasil/